A tecnologia é incapaz de realizar tarefas criativas. Isso é para “coisas de carne e osso”, diz Erik Brynjolfsson, do MIT
A inteligência artificial roubando vagas de empregos virou conversa rotineira nas empresas. Mas para Erik Brynjolfsson, professor e diretor da Iniciativa sobre Economia Digital do MIT, a maioria desses papos é quase sempre exagerado e cheio de fantasias. Os robôs, como os seres humanos, são imperfeitos – portanto, incapazes de realizar algumas tarefas.
Em um debate no Dell Technologies World, evento que acontece em Las Vegas até amanhã (1/5), Brynjolfsson “mandou a real” sobre a questão. Credenciais não lhe faltam. O professor, ao lado do cientista do MIT Andrew McAfee, escreveu dois livros sobre os efeitos das tecnologias digitais nos negócios, na economia e na sociedade (Machine, platform, crowd: harnessing our digital future e The second machine age: work, progress and prosperity in a time of brilliant technologies).
Para a plateia com mais de dois mil profissionais da área de tecnologia e inovação, Brynjolfsson, quase num tom de apelo, afirmou que ainda estamos longe de ver a inteligência artificial substituindo os humanos em todas as funções. “A razão é simples: ela ainda não sabe o que é desejar. E a falta de desejo a deixa sem empatia e criatividade, coisas que sobram nos seres humanos”, diz. Por essas deficiências, a tecnologia, diz o professor, é incapaz de criar um plano de negócios, fazer uma obra de arte ou contar uma boa história.
O olhar cético da plateia, que busca no evento insights para aproveitar todo o potencial da inteligência artificial, evocou o lado professor de Brynjolfsson. Para fortalecer sua teoria, buscou um exemplo que toca a todos: a saúde.
Hoje, algoritmos estão sendo usados por hospitais para diagnosticar câncer. Apesar da precisão, que beira os 97% (seres humanos são precisos em 95% das vezes), a inteligência artificial falha: “ela dá o resultado, mas não levanta da cadeira para falar com outros médicos, ler outros parâmetros e indicadores de saúde, olhar o paciente e conversar sobre a doença…”, diz. “O médico, portanto, continuará vital para um tratamento eficaz”.
Mas e o avanço tecnológico?
No momento, para o professor, a inteligência artificial impressiona em duas grandes áreas, as de percepção e de cognição. O reconhecimento de voz, por exemplo, é uma realidade: milhões de pessoas usam, no dia a dia, a Siri, a Alexa e o Google Assistant. Uma pesquisa, feita por James Landay, cientista da computação de Stanford, afirma que o reconhecimento de voz já é cerca de três vezes mais rápido que uma pessoa digitando um texto no smartphone. Além disso, o reconhecimento de imagem é uma realidade: desbloqueamos celulares com fotos, carros autônomos reconhecem obstáculos, apps de fotos agrupam imagens por padrão da face.
Mas o professor concorda que, a cada dia, empresas de tecnologias, startups e universidades avançam no desenvolvimento da inteligência artificial, afirmando inclusive que ela já pode aprender com os seres humanos. “A inteligência artificial já interpreta emoções com alto grau de precisão, mas tem dificuldades em ter emoções”, diz. “É difícil prever se ela terá, mas é quase impossível pensar nisso hoje”.
Brynjolfsson, contudo, tem uma certeza: a IA causará um grande impacto no mundo dos negócios. Ela vai acabar com algumas funções, principalmente as burocráticas e as de trabalho pesado. Robôs dotados de inteligência artificial poderão ajudar em várias áreas, da advocacia à de entretenimento, e ser até parceiros de trabalho. “Empregos vão, sim, desaparecer, mas surgirão outros. E isso saberemos em breve”, diz. “Não devemos lamentar, pois é o preço da tecnologia. Há décadas, por exemplo, máquinas ganharam o lugar do homem na colheita e isso nos deu muito mais alimentos”.
Mas ao invés de temer o avanço, o professor pede que as pessoas vejam o lado bom da tecnologia. “Ela fará somente o trabalho pesado e a gente ficará com o lado criativo e mais legal do trabalho. É justo, não?”. Brynjolfsson acredita ainda que a inteligência artificial será capaz de transformar o planeta num lugar melhor ao melhorar a educação e até a saúde (ao ser um assistente para médicos e professores).
Para isso, ele pede ajuda à plateia: “Não tenham medo, a IA não é capaz de ser criativa. A IA só vai querer seu emprego se ele virar algo automático. Então, seja criativo, encare a tecnologia e ajude a ter um mundo mais justo”, diz.