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Criatividade, Sociedade e COVID-19

sexta-feira, 20 de março de 2020 | Criatividade
Criatividade, Sociedade e COVID-19

Proponho, com este ensaio, correlacionar uma reflexão entre Criatividade, Sociedade e COVID-19, formatada respectivamente nessa ordem. Uma visão que se iniciou durante minha tese de mestrado em Barcelona, a qual deu origem ao Thinkplug com a proposta de desconstruir a identidade das pessoas e regressá-las ao seu estado criativo natural, e culminou com essa pandemia, a qual torna pertinente a inclusão da vigente estrutura social nesse debate.

Já em 1960, Alexander sustentava que “as pessoas vão se dando conta de que a força mais importante de um país não está em suas reservas de carbono, ferro ou urânio, e sim na capacidade do seu povo no campo da criatividade. Logo estaremos todos de acordo que um povo sem criatividade está condenado à escravidão”. Nessas circunstâncias começa ficar claro que a criatividade é uma riqueza social.

A busca para compreender a natureza do fenômeno criativo equivale a busca de conhecimento acerca da própria natureza do ser, pois a criatividade parece ser a manifestação mais representativa da construção humana.

Segundo a Psicologia Cognitiva e o Construtivismo, a conduta é uma reação à representação da realidade conceituada e contida nos esquemas mentais. Em outras palavras, não relacionamos à realidade exterior, e sim à realidade subjetiva criada por nossos processos cognitivos. Percebemos o mundo de forma condicionada e questionar nossa percepção resulta no acesso ao nosso poder de criação, no despertar de uma identidade verdadeira e na expressão de uma maneira genuína de existir e ser. Em sociedade, pois não existimos só.

Quando René Descartes diz "Penso, logo Existo”, ele está sendo ingênuo ao acreditar que ele pensa - pois toda estrutura maior que o indivíduo ajuda, faz ou pensa o individuo. O discurso dito não vem da nossa individualidade, mas da coletividade que é a classe, e muitas vezes a nossa classe fala por nós. Alguns séculos depois, Freud veio a dizer que não é só você e nem sua classe que pensam, mas também o seu inconsciente.

É preciso enfatizar aqui que: quando adquirimos a percepção que o nosso subconsciente pensa por nós, estamos falando de uma parte do cérebro isenta de cognição, ou seja, sem filtro ou controle. Todo o condicionamento que nos foi imposto, o qual nos afastou da nossa originalidade e do nosso poder de criação, está no comando de nossas decisões, condicionando a nossa interpretação da realidade. Sendo assim, questionar sua própria identidade torna-se imprescindível para o despertar da sua criatividade.

Seja qual for a sua idade, não é novidade que alguns jogos de tabuleiro tenham feito parte da sua infância, pois eles vem sendo mantidos como bem de cultura por um interesse que não mudou muito desde os nossos pais até a gente. O que esses jogos tem em comum? Eles transformam em brincadeira modos de estar no mundo e encarar a vida. No Jogo da Vida você ganha se juntar muito dinheiro, e perde se virar filósofo ou for morar no campo; No Banco Imobiliário ganha quem juntou mais propriedades e conquistou o monopólio imobiliário; No War vence quem conquistar um numero X de territórios, continentes ou dizimar um exército; No Forte Apache vence quem dizimar os Índios; Em Comandos em Ação vence quem dizimar o exército inimigo. 

Todas as nossas brincadeiras, que formaram nossa cognição durante anos, são treinos para um mundo violento e segregado. Qual o impacto que isso tem na nossa vida em se tratando de perceber os nossos semelhantes?

Em meados de 1905, no capitulo V de sua obra O Capital, Karl Marx ressalta: “O negro é o negro. Ele só se torna escravo em determinadas relações sociais”. Raça é uma construção social. O que se tinha eram seres humanos com cores de pele diferentes, o suficiente para alguns apoiarem-se na justificativa de enquadrar os "outros" em uma outra raça, os tratar de forma diferente.

Simone de Beauvoir traz essa mesma discussão no seu livro O Segundo Sexo, em 1949, quando diz: "ninguém nasce mulher, torna-se mulher". Em outras palavras, um ser humano com a marca da fêmea no corpo não configura como o outro do homem, não configura um segundo sexo, um outro gênero. E assim como o negro é só um negro, e em condições específicas da sociedade de classe foi transformado em escravo, a mulher é só mulher, e em condições especificas da sociedade de gênero, foi transformada em o outro do homem.

Replicando essa linha de raciocínio para todas as diferenças existentes entre os seres humanos, a qual impera nossa forma de viver em sociedade, fica evidente a necessidade de repensar a nossa identidade como indivíduos, a nossa relação com o ambiente no qual estamos inseridos e o que formatou nossa percepção de mundo.

O que poderia ser capaz de nos fazer reflexionar de forma profunda a ponto de repensar toda estrutura social a qual fomos condicionados por tanto tempo? COVID-19.

É importante que todo mundo reconheça que desta vez é diferente. Não é dengue, nem H1N1, nem febre amarela, e precisamos estar dispostos a mudar radicalmente nossos modos de vida, e talvez até o jeito que pensamos sobre a sociedade em que vivemos. Não importa sua raça, sua classe nem seu gênero, estamos todos vulneráveis. A única maneira de passar por essa pandemia e diminuir o impacto humano, social e econômico, é atuar na coletividade. Unir-se como seres humanos, sem as pré-condições determinadas que hoje constroem as nossas relações.

A empatia já começa se manifestar em inúmeros casos como: Cristiano Ronaldo transformando seus hotéis em leitos para infectados; A AMBEV disponibilizando sua estrutura para embalar 500 mil embalagens de álcool em gel e distribuir aos hospitais públicos; Anitta abrindo seu instagram para que as pessoas possam compartilhar seus conhecimentos; Jovens se dispondo a fazer compras no mercado e farmácia para pessoas em grupos de risco; Artistas ao vivo em seus canais para entregar entretenimento às pessoas que estão em quarentena; Plataformas de streaming e Instituições Educacionais liberando seu conteúdo gratuitamente; e muitos outros bons exemplos.

Se a crise gera oportunidades, o COVID-19 é, talvez, o acontecimento mais importante dos últimos tempos para que possamos repensar nossa vida em sociedade. O momento, que não deixa espaço para o individualismo, exige uma nova forma de co-criar a realidade mundial a partir do aspecto humano.

Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina. A grande obra de Belchior, de 1976, na voz de Elis Regina, já nos alertava: que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos. Quem ama o passado não vê que o novo sempre vem. É preciso desconstruir todos os conceitos que nos foram impostos sobre raças, gêneros e classes. Sobre sociedade. Sobre indivíduo. Despertar nosso poder de criação e entregar ao coletivo. Seguindo com Elis, chegou a hora de entender, de uma vez por todas, que o seu braço, o seu lábio e a sua voz foram feitos para abraçar seu irmão. 

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