CRIATIVIDADE PARA
DESTRAVAR NOVAS POSSIBILIDADES

VAMOS COCRIAR UM NOVO FUTURO

Soluções do futuro para problemas atuais

sexta-feira, 25 de setembro de 2020 | Inovação
Soluções do futuro para problemas atuais

Eu não deveria estar escrevendo este artigo.

Não porque tenha faltado algo essencial em minha vida durante a infância e adolescência – não faltou. Mas porque as oportunidades que tive foram, em retrospecto, uma sequência de pequenos milagres que me fizeram acreditar que valia a pena sonhar com o impossível. E este texto é resultado desse sonho.

Cresci sem muitos luxos. Estudei em escolas públicas a vida toda e comecei minha jornada profissional aos 12 anos, vendendo gibis e livros usados na feira. Meu primeiro “sonho impossível” foi conhecer o mundo. Sem dinheiro para bancar um curso em uma escola de inglês, estudei por anos com livros que eram rejeitados por livrarias e bibliotecas até me educar no idioma através de uma escola que aceitou que eu trabalhasse como office-boy em troca do curso. Mais tarde, já fluente no idioma, consegui uma vaga em um navio cruzeiro de uma famosa rede italiana como uma espécie de faz-tudo de bordo. A viagem para a entrevista só tinha sido possível porque a mãe de um dos concorrentes me cedeu um lugar para ficar durante a semana do processo seletivo. Com a experiência, tive a oportunidade de viajar 11 países a bordo do navio e, ao retornar para o Brasil, empreender com base nos conhecimentos que adquiri.

Mas não era pra ter sido assim. Como todo brasileiro, faço parte de um contexto de indicadores sociais desastrosos. Por exemplo, todos os anos, 700 mil jovens matriculados no ensino médio evadem da escola. Outros 600 mil são reprovados por falta. Uma pesquisa recente mostra que o Brasil caiu para último lugar no ranking de prestígio do professor. Em pleno 2020, milhares de crianças não têm acesso à internet e computadores – nas periferias este número cresce vertiginosamente. A barreira de contato com novos idiomas ainda é tão alta e excludente quanto na época em que servi café e limpei banheiros em troca do meu curso.

Eu não deveria estar escrevendo este artigo porque minha história não é a regra, é a exceção. A regra vigente no Brasil é de que o futuro não é uma garantia para todos – mas um privilégio para poucos. Essa compreensão fez nascer em mim um novo sonho: criar uma iniciativa capaz de construir pontes entre o um presente difícil e futuros possíveis para milhares de jovens.

Para invertermos a narrativa de miséria, preconceito e falta de oportunidades predominante no Brasil, devemos provar, por meio de gestão, inovação e liderança, que é possível construir um futuro melhor a partir de hoje. Para isso, decidi formar uma aliança entre pessoas, empresas, tecnologia e soluções inteligentes para formar uma rede dedicada a ampliar as oportunidades de crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade social.

Assim nasceu o Instituto Futuro Para Todos.

Uma das primeiras experiências que tive à frente deste movimento social foi o impacto da precariedade das favelas e periferias da cidade. É difícil colocar no papel a gama de sentimentos que lhe acomete quando você entra no quarto de uma criança repleto de ratos e a ouve contar, orgulhosa, sobre os brinquedos que encontrou no lixo de um condomínio; ou quando constata, após alguns minutos de conversa, que jovens de 15 anos não sabem interpretar um texto ou fazer uma conta básica de matemática; ou quando você entra em uma casa coberta por papelão, com 5 pessoas dividindo uma cama, sem saneamento básico ou água potável.

Compreendi com isso que, como ONG, o Instituto Futuro Para Todos deveria se colocar justamente onde seu nome aponta: no futuro da gestão, da tecnologia e da inovação aplicada a desafios sociais.

Firmamos uma parceria com o Instituto As Valquírias, uma das maiores obras sociais do Estado, e focamos na missão de encontrar soluções do futuro para problemas atuais: a melhor educação para quem mais precisa; tecnologia para estimular novas realidades; reabilitação socioeconômica apoiada em capacitação profissional de ponta; consciência ambiental como convite a um papel de protagonismo na regeneração do planeta e a inteligência coletiva a serviço das comunidades mais necessitadas. Nos instalamos na Zona Norte da cidade de São José do Rio Preto no coração do problema: em uma região assolada pelo crime, a prostituição e a falta de acesso a oportunidades, desenvolvemos estratégias de transformação através de um sistema de impacto social pautado em Educação Futurista, Sustentabilidade e Comunidades Inteligentes.

Fiz uma palestra recentemente numa comunidade rural de Rio Preto e, ao final, um jovem chamado Lucas me disse chorando que sua mãe dizia que ele não tinha o direito de sonhar, pois estudava em escolas ruins, era pobre e filho de pais alcoólatras – mas que minha história mostrava que ele podia, sim, ser mais do que um número nas estatísticas do noticiário.

Algumas pessoas aprendem a sonhar com o impossível. Mas e aqueles jovens aos quais foi negado um futuro? É aí que entra a nossa união.

Eu não deveria estar escrevendo este artigo. Minha história tinha tudo pra ser como a de milhares de meninos como o Lucas. Mas aprendi que sonhar com o impossível é o primeiro passo para tornar o sonho real. E meu sonho hoje é construir um universo de possibilidades ao lado de pessoas que também acreditam que toda criança, independente do seu passado, merece a chance de um futuro brilhante!

Afinal, eles também não deveriam escrever artigos – ou se formar, viajar, escrever livros, comandar empresas e deixar sua marca no mundo.

Mas vão. Ainda que seja impossível.

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